terça-feira, 18 de julho de 2006

Uma critica perfeita!

TUDO PELO SEXUAL
Com apenas uma semana de exibição, "Páginas da vida" produziu um cardápio sexual inédito para uma novela brasileira. No primeiro capítulo, Manoel Carlos ofereceu um aperitivo do que estava por vir, com uma generosa dose de sexo verbal. Várias personagens mostraram-se frustradas com o desempenho de seus parceiros, a começar pela protagonista Helena (Regina Duarte).
Dois dias depois, o cardápio foi incrementado com cenas de strip-tease, voyeurismo e uma insinuação de sexo a três, em uma seqüência que ficou, em conteúdo e estética, muito próxima aos programas soft core exibidos de madrugada pelo Multishow. No sábado, a verve sexual da novela chegou ao paroxismo com o depoimento real de uma mulher anônima de 68 anos sobre sua descoberta do orgasmo pela masturbação. "Com 45 anos, ganhei um LP do Roberto Carlos, botei na vitrola a música 'Côncavo e Convexo' e fui dormir. E, quando acordei, estava com a perna suspensa, a calcinha na mão e toda babada. Comentei com as amigas, elas disseram: 'Você gozou!'. Aí que vim saber o que era gozo. Moral da história: sou uma mulher de 68 anos, que homem pra mim não faz falta, eu mesma dou meu jeito."
Se o sexo na novela tivesse se resumido a um episódio isolado, Manoel Carlos poderia argumentar que era uma exigência dramática de uma determinada cena. Mas, com o acúmulo de ocorrências, fica claro o caráter apelativo e programático da iniciativa. A lógica por trás de "Páginas da vida" ficou muito parecida com a do comércio do sexo: oferece um programa sexual em troca de um pagamento. No caso da novela, as moedas são a polêmica e a audiência. Mas há um componente perverso em "Páginas da vida": no mesmo programa, misturam-se o sexual e o social, o erótico e o educativo, sem que os limites entre um e outro fiquem claros. Em sua primeira semana, a novela não apenas bateu recordes de cenas de sexo, como também de merchandising social. Para cada apelação, houve uma boa causa – seja a defesa do parto natural ou o ataque ao preconceito contra portadores de síndrome de Down. Até agora, "Páginas da vida" alternou-se entre a sacanagem e a correção política, como se a Globo acreditasse que a segunda anula a primeira. O mais provável é que elas se confundam na cabeça do espectador. Afinal, o depoimento sobre masturbação de uma senhora de 68 anos é um avanço no tratamento do sexo por uma novela ou uma busca desesperada pela audiência?
Uma coisa é certa: a cena foi inapropriada e constrangedora, passou dos limites do bom senso e do bom gosto. Não porque mostrou a sexualidade de uma mulher de terceira idade. Mas porque sua descrição da masturbação foi chula, grosseira. O depoimento pode ter o efeito inverso ao desejado: em vez de provocar polêmica e aumentar a audiência, dar munição aos conservadores e despertar a rejeição dos espectadores à novela. A Globo está superestimando a vontade do público de ver sexo na TV.
Quem quer ouvir – ao lado da mulher, da sogra e dos filhos - que alguém ficou "toda babada" ouvindo "Côncavo e Convexo"?
(escrito por Ricardo Callil do site "
No Mínimo")

Um comentário:

Anônimo disse...

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